Quem passa pelo centro de Venâncio Aires pode perceber que as quadras são bem delimitadas, com tamanhos iguais. Isso ajuda muito na hora de dar uma informação para alguém que não é da cidade e quer encontrar algum ponto específico. Essa característica vem de muito tempo, mais de 150 anos – antes mesmo do seu tataravô! – e está ligada ao início da urbanização do município, quando passou a se desenvolver o centro urbano de Venâncio Aires.
Muito antes da Igreja e da doação de Brígida do Nascimento, as terras que hoje compõem o território do município, eram, literalmente, apenas mato, habitada somente por indígenas da tribo Guarani, principalmente, próximo aos rios e arroios da região. No século XVIII, o governo português começa a distribuir lotes de terras - chamadas sesmarias - a moradores das Ilhas dos Açores, tentando incentivar o povoamento das terras que correspondem hoje, ao Rio Grande do Sul, além de reduzir a população nas ilhas açorianas, que se encontravam superpopuladas. Um dos grandes sesmeiros destas terras, foi Francisco Machado Fagundes da Silveira, família que até hoje se encontra na Capital do Chimarrão.
No entanto, a povoação destes lotes só aconteceu nos meados do século seguinte, nas proximidades do Rio Taquari e dos seus afluentes, os arroios Castelhano, Sampaio e Taquari-mirim, sendo habitada, primeiramente, por luso-brasileiros e após, por imigrantes alemães. Venâncio, que já havia feito parte de Rio Pardo e Triunfo, pertencia nesta época, a Taquari. As principais atividades econômicas da época, eram a pecuária, o extrativismo de madeira e o plantio de erva-mate, tendo a agricultura como subsistência. A região era oficialmente chamada de Faxinal dos Fagundes, devido à família dos sesmeiro das terras. Entretanto, era popularmente conhecida como Faxinal dos Tamancos, mas não se sabe certamente sobre a origem do nome. Conta-se que dentre um dos sesmeiros que ganhou umas terras nas proximidades, mais exatamente no atual distrito de Vila Estância Nova, um inglês chamado José Hollbroock, que fabricava tamancos de madeira, utensílio comum na época.
Talvez um dos nomes mais conhecidos dos primórdios da cidade, surge o nome de Brígida do Nascimento, uma figura profidencial para o surgimento de Venâncio Aires. Nascida em dezembro de 1783, no então município de Rio Pardo, batizada como Brígida Joaquina do Nascimento (seu nome é encontrado muitas vezes com o sobrenome "Fagundes", mas na verdade, ela não herdou este sobrenome), dentro de uma família de imigrantes açorianos. Brígida era neta do capitão Francisco Machado Fagundes da Silveira, dono da primeira área de terras de Venâncio. Quando ele, morreu, em 1778, deixou suas propriedades como herança para os nove filhos. Mais tarde, Brígida também herdou parte das terras. Ela doou uma área de dez mil braças quadradas para a construção de uma capela em homenagem a São Sebastião Mártir e essa construção deveria ser feita em 10 anos. Para ter uma ideia, essa área corresponde a 4 quadras inteiras, o equivalente a 4,8 hectares. Conta-se uma história de que esta doação de Brígida, ocorreu devido à uma promessa que ela havia feito. Seus dois filhos haviam ido lutar na Revolução Farroupilha (1835-1845), com seu instinto materno, Brígida prometeu que doaria terras para a construção de uma igreja, e foi isso que aconteceu, ambos voltaram vivos da guerra. A doação formalizada viria acontecer em 1864, sendo considerado o "marco zero" para a zona urbana de Venâncio. Para que pudesse construir a capela, a Igreja Católica precisava de dinheiro. Por isso, reservou uma quadra para o templo e outra para a praça, mas loteou e vendeu a área restante em terrenos menores, do mesmo tamanho. Todos os demais lotes seguiram o mesmo padrão e, mais tarde, com a expansão da cidade, deu-se sequência ao traçado quadriculado.
Em 1881, Santo Amaro - hoje ditrito de General Câmara - eleva-se a Vila, separando-se de Taquari, e levando consigo, o Faxinal dos Fagundes. Em 1878, o arroio Castelhano havia ganhado a sau primeira ponte, inflenciando no giro e no crescimento do comércio local. Com a construção da antiga capela construída nas terras doadas por dona Brígida, e com isso, o crescimento, ainda pequeno, nos arredores, a o templo passa a ser uma capela curada, conseguindo a elevação à freguesia, nominada Freguesia de São Sebastião Mártir. Com o passar dos anos, o crescimento do perímetro urbano do município, surge um movimento buscando a emancipação da freguesia, tendo como um dos principais líderes, o Coronel José Antônio Gonçalves Agra.
Em 1883, o agrimensor Antônio Azambuja Villanova projetou o primeiro mapa do perímetro urbano do município, que corresponde ao atual centro da cidade, contava com atual 13 ruas e 24 casas. O sentido das ruas e a simetria das quadras, seguiram até os dias de hoje. A maioria dos nomes das ruas também seguiram, com algumas alterações, como a Reinaldo Schmaedecke (chamada Aquibadan), a Júlio de Catilhos (antiga Bismarck) e a Osvaldo Aranha (que era chamada de 28 de Setembro). Existe no mapa, uma casa com o desenho de uma cruz, representando a capela de São Sebastião Mártir.
Em 1891, através da declaração do então vice-governador do estado, Fernando Abott, declarando como Vila e denominando de "Venâncio Aires". Venâncio de Oliveira Ayres foi um escritor e político paulista, radicado no Rio Grande do Sul, com grande influência no fim do período imperial e no início do período republicano. Fernando Abott era amigo próximo do jornalista, que havia falecido 1889 - dois anos antes do pedido de emancipação. Como forma de homenagear o amigo, nomeou a pequena freguesia com seu nome. No entanto, o paulista nunca teve contato com a cidade.
Em 1938, seguindo o decreto de divisões territoriais do governo federal, que buscava esclarescer as divisões administrativas dos territórios estaduais, a sede do município, seria chamada de "cidade", não mais de "vila. Já os distritos subordinados pela sede, seriam tratados como "vila". Nesta época, Venâncio era formada pelo 1º Distrito - sede, 2º Distrito de Estância do Mariante - Vila Mariante (com sede em Porto Mariante) e o 3º Distrito - Vila Deodoro. Logo mais, em 1940, Mato Leitão foi elevado à "freguesia" pela divisão eclesiástica.
Sesmaria: o termo sesmaria tem origem no latim sexus, que significa "sexto", e foi adotado no português antigo como sesma, referindo-se a uma divisão de terras em partes. As sesmarias eram grandes lotes de terra concedidos pela Coroa Portuguesa a colonos que se comprometiam a cultivá-las. Esse sistema foi fundamental na ocupação e exploração do território brasileiro, especialmente para a agricultura e pecuária.
Luso-brasileiro: aquilo que está ligado ou relacionado a Portugal e ao Brasil. Uma pessoa luso-brasileira, pode ser alguém nascida no Brasil, mas com descendência direta com Portugal.
Subsistência: modelo de produção voltado para o autossustento das famílias ou pequenas comunidades. Diferente da agricultura comercial, seu objetivo principal não é a venda em larga escala, mas sim a produção de alimentos para consumo próprio.
Faxinal: tem origem no vocábulo "faxina", derivado do latim facina, que significa "feixe de lenha" ou "mato cortado". No Brasil, o termo passou a designar áreas sem matos, clareiras.
Capela curada: termo é utilizado no contexto da Igreja Católica para designar uma capela que possui um sacerdote responsável por ela.
Agrimensor: o agrimensor é o profissional responsável por medir e mapear terrenos, definir limites de propriedades e realizar levantamentos topográficos.
Igreja São Sebastião Mártir, um cartão postal de Venâncio
Saiba mais sobre a história do primeiro distrito de Venâncio Aires - Arquivo em PDF
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